Sou licenciada em Economia, assim como o meu marido, o Zé Senra. Aliás foi na FEP que nos conhecemos 🙂
Sempre gostei de macro economia, estudar os comportamentos do consumidor e avaliar o efeito das expectativas no mercado.
Nesta altura do ano, de férias escolares, os jantares são mais longos e, com dois adolescentes em casa, verdadeiramente interessados em matérias filosóficas e no que os próprios chamam de comportamentos sociais, é com agrado que vejo a hora de jantar a alongar-se para se debater a sociedade, os comportamentos sociais, e, por estes dias, o impacto das expectativas no comportamento dos preços. Aliás, tudo começou por tentar perceber o que é a inflação, como surge, se e quando é possível assistir a períodos de deflação …? Poderão as expectativas de cada um de nós influenciar os preços?
Isto sim, são temas que adoro e, com já vários anos dedicados ao imobiliário, não poderia deixar de associar estas matérias ao mercado imobiliário e ao comportamento dos preços dos imóveis.
Fruto da pandemia assistimos hoje a comportamentos sociais distintos e a muitas expectativas.
Há expectativa que:
O turismo retome em breve;
O turismo nunca mais volte a ser o mesmo;
As famílias troquem de casa na procura de imóveis mais ajustados a uma vivência familiar e profissional mais intensa da habitação;
As famílias precisem de vender as suas casas num futuro próximo dado o crescimento do desemprego e a consequente dificuldade em liquidar os empréstimos à habitação;
Os juros subam ou, … se mantenham caso contrário ver-se-á inviabilizado o negócio do crédito;
As empresas fechem portas;
Novos e inovadores negócios surjam.
Enfim, são muitas as expectativas e na verdade distintas, entre os vários segmentos sociais.
E é esta incerteza, esta expectativa de tempos incertos num futuro próximo que está a originar um comportamento atípico no mercado imobiliário.
A incerteza, a dificuldade em gerir expectativas, leva os agentes económicos a não agirem, a adiarem decisões.
Quem pondera comprar quer ter a expectativa de que haverá estabilidade no financiamento a contratar, quer do ponto de vista da evolução da taxa de juro quer da capacidade de cumprimento do mesmo.
Quem pondera investir capitais próprios quer ter a expectativa de que a valorização do seu ativo será positiva no médio prazo, pelo que receia uma redução dos preços nos próximos meses e questiona se agora é “um bom momento”.
Quem pondera vender, receia que, dada a instabilidade do momento, a colocação de um imóvel à venda seja considerado como uma necessidade ou urgência, e leve a perda de capacidade negocial.
E para quem assiste a todos estes receios, expectativas e em alguns casos alguma ansiedade, é curioso perceber que é a antecipação dos acontecimentos, são as expectativas e as “crenças” sobre a futura evolução do mercado, que levarão a que realmente as expectativas se cumpram e concretizem.
Desculpem esta análise tão directa, tão simples, mas que é na verdade a minha análise muito pessoal, de quem está atenta à “nossa economia” e ao mercado imobiliário há já vários anos, mas considero que se continuarmos todos com receio do futuro, com expectativas de incerteza de tal modo que nos leva a não decidir, a não avançar com decisões de negócio, com certeza que as expectativas de crise, dificuldades de financiamento, vendas urgentes e redução de preços vão efetivamente acabar por ocorrer. E, como sabemos, será um cenário negativo para todos os agentes económicos.
E foi isto que conversei em familia, num destes últimos jantares de Agosto. E os “meus”adolescentes perceberam o impacto das expectativas e comportamentos sociais, na oferta e na procura de mercado e, consequentemente no comportamento dos preços.
Neste momento, continua a existir liquidez, continua a existir crédito habitação, continua a haver procura e famílias a pretender mudar de casa. Os preços, na generalidade, no mercado de compra e venda de imóveis mantêm-se.
Não façamos com que expectativas estraguem um enquadramento de equilíbrio.
Permita-me um conselho:
Se precisar de vender, venda.
Se precisar de comprar, compre.
Analise, compare, avalie, pondere. Volte a comparar, volte a ponderar. Faça escolhas conscientes …(não é de certo o momento de decisões por impulso). Mas decida. Avance.
Porque às vezes, (a maioria das vezes) não decidir é a pior decisão que pode tomar.