Um encontra casas perfeitas, o outro faz obras de sonho. Jonathan e Drew Scott queriam ser atores, acumularam dívidas e acabaram a fazer programas de decoração.
Jonathan Scott é aquele que parte as casas e depois as transforma naquilo que os donos sempre quiseram mas nunca imaginaram ser possível. Drew Scott é perito em encontrar bons negócios, regateá-los ainda mais e decorar as casas. As dúvidas estão desfeitas durante os próximos três segundos — porque, assim que os vir novamente lado a lado, não vai saber quem é quem outra vez.
São gémeos idênticos e os apresentadores de “Property Brothers”, um programa sobre renovação de casas que começou no Canadá e é um sucesso em mais de 150 países, incluindo Portugal. Neste momento, a SIC Mulher transmite todas as noites dois episódios um pouco depois das 20 horas. “Property Brothers — Buying and Selling” é diferente do formato original e aqui o objetivo é ajudar famílias a melhorar e vender uma casa que já têm e depois a procurar uma nova habitação.
Atualmente têm spinoffs, um programa de rádio, uma app, um livro e várias web series. Para perceber como chegaram até aqui, é preciso recuar a 2009. Nessa altura, Drew fez um casting para apresentar uma competição de agentes imobiliários. “Realtor Idol”, assim se chamava, devia ter outra apresentadora, uma mulher, mas os produtores mudaram de ideias quando souberam da existência de Jonathan. Fizeram um vídeo amador juntos e uma semana mais tarde já estavam a gravar um episódio piloto. Drew, mais corpulento, devia ser o empreiteiro mas quem tinha a licença de trabalho era Jonathan e acabaram por trocar os papéis. Milhares de espectadores começaram a aparecer quase imediatamente desde que o primeiro episódio foi transmitido em janeiro nos 2011, primeiro no Canadá e depois nos Estados Unidos. Tanto que, nos anos seguintes, muitos programas foram gravados em cidades norte-americanas.
Os orçamentos que as famílias apresentam são reais e o único contributo dado pela produção ronda os 17 mil euros. Os projetos em computador que os espectadores vêem antes das obras arrancarem custam cerca de oito mil euros. Aos 40 anos, Jonathan e Drew têm sempre soluções para rentabilizar espaços, poupar dinheiro e fazer divisões de sonho. Ambos são agentes imobiliários mas nem um nem o outro sonhavam algum dia fazer isso.
Ninguém estava à espera de gémeos
Jonathan (que na realidade se chama John) Scott nasceu a 28 de abril de 1978. O que ninguém esperava era receber outro bebé, Andrew, quatro minutos depois. James e Joanne, os pais, já tinham um filho de dois anos, James Daniel (JD), e não tinham feito ecografias nesta segunda gravidez. James tinha trocado a Escócia pelo Canadá uns anos antes. Queria ser daqueles cowboys que tinha visto nos filmes e arranjou trabalhos como ator, duplo e assistente de realização. Depois do nascimento dos filhos trocou tudo por uma quinta com cavalos perto de Maple Ridge e voltou a trabalhar numa escola, a sua antiga área. A mãe era assistente jurídica.
James fazia renovações constantemente e pagava aos miúdos para arranjarem vedações ou outras coisas pequenas na propriedade. Aos sete anos, os gémeos criaram um negócio com a mãe: vender cabides forrados com nylon. Andavam de porta em porta e acabaram por conhecer uma mulher que tinha um negócio de exportação para o Japão e lhes comprou milhares de cabides. Foram palhaços em desfiles e chegavam a ganhar 88€ à hora e foi aí que Jonathan começou a interessar-se por truques de magia. Aos dez anos já fazia os próprios adereços e aos 15 criava ilusões em grande escala num barracão da quinta da família. Por esta altura, Drew preferia jogar basquetebol mas uma série de lesões acabaram com o sonho cedo.
Papéis em “The X-Files” e “Smallville”
Os dois adoravam representar e inscreveram-se em todos os grupos de teatro na escola. No entanto, quando chegou o momento de irem para a faculdade, não queriam ser “artistas a passar fome” e por isso Jonathan decidiu estudar gestão e Drew cinesiologia (estudo dos movimentos do corpo humano). Em vez de se limitarem a um estúdio, arrendaram uma casa com sete quartos, limparam-na e fizeram renovações. Ficaram com dois quartos, alugaram cinco e todos os meses tinham um lucro de 700€. Perceberam que tinham aí uma oportunidade de negócio e nos 15 anos seguintes fizeram a formação de agentes imobiliários, renovaram e venderam casas e criaram várias empresas.
Ainda assim, nenhum dos dois se esqueceu dos respetivos sonhos. Em 2007, Jonathan casou com Kelsey Ully e mudou-se para Las Vegas para abrir uma sucursal do negócio. Era aí que tinha visto David Coperfield aos 12 anos e pareceu-lhe o local ideal para voltar à magia.
Deixando os irmãos — JD também trabalha com eles — a gerir as empresas nas diferentes cidades, Drew ficou em Vancouver e começou a investir em aulas de representação e voz. O irmão tinha feito um pequeno papel em “The X-Files” e ele participou em “Smallville”, entre dezenas de outras coisas, mas nesse momento nada parecia funcionar. No final do ano tinha acumulado prejuízos de 88 mil euros e decidiu voltar ao imobiliário. Foi então que surgiu a possibilidade de fazer um casting para televisão e o resto está à vista nos canais de televisão por todo o mundo.
Uma casa, um disco e um casamento
O casamento de Jonathan não funcionou e terminou quando estavam a decorrer as gravações da primeira temporada de “Property Brothers”. Apesar de ter sempre gente à volta dele, o apresentador explicou mais tarde na biografia que escreveu (“It Takes Two: Our Story”) que estava em plena depressão e que não socializou “com ninguém durante seis meses”.
“A separação já não me afeta mas durante demasiado tempo, uma fase demasiado negra da minha vida, era tudo o que eu fazia praticamente”, contou.
m 2011, os gémeos compraram uma casa juntos, para toda a família, e a renovação teve direito a um spinoff. Além disso, gravaram também dois singles sob o nome artístico The Scott Brothers.
Desde que se tornaram conhecidos, já foram incluídos em inúmeras votações de homens sexy ou solteiros desejados. Contudo, Drew já não faz parte desse grupo. Este ano casou com Linda Phan e ela é agora a responsável por todos os conteúdos digitais dos programas de televisão.
A magia acabou na bancarrota
Afinal, o que aconteceu ao mágico Jonathan? Já não existe e chegou mesmo a levar o canadiano à bancarrota. Certo dia roubaram-lhe todo o equipamento e a coleção de adereços. Ele ficou sem alternativas para atuar e sem dinheiro, até porque não tinha seguro.
“Acabou por mudar toda a minha perspetiva das coisas. Percebemos como qualquer decisão imprudente pode deixar-nos vulneráveis. Agora fizemos as devidas diligências e fortalecemos a nossa situação financeira”, explicou em entrevista à revista “People”.
Fonte: nit.pt