Não é preciso ser ministro para preparar um orçamento. Controlar despesas e rendimentos é o primeiro passo para garantir a estabilidade da família.
No Excel de Mário Centeno os cálculos estão quase feitos. Daqui a menos de 24 horas é entregue o Orçamento do Estado para 2019, um bom pretexto para começar a fazer as suas próprias contas. A tarefa é menos hercúlea do que a do ministro das Finanças, o que não significa, ainda assim, que seja fácil. No portal Todos Contam, a plataforma de formação financeira do Banco de Portugal, encontra um plano detalhado para ter o orçamento familiar sob controlo, sem correr o risco de ser chumbado pelo eleitorado lá de casa.
Identificar ganhos e gastos
É o primeiro passo de qualquer orçamento, e também o mais importante. Dependendo da situação pessoal de cada membro da família, a rubrica dos rendimentos deve incluir os ganhos com salários, receitas da atividade profissional por conta própria, subsídios de desemprego, abonos, reformas ou pensões, mas também os ganhos com juros de aplicações financeiras ou rendas recebidas por arrendamento de imóveis. Os rendimentos fixos devem ser diferenciados dos rendimentos variáveis. Já na coluna das despesas há duas grandes categorias: as necessárias, como a alimentação ou as contas da casa, e as supérfluas, como os gastos com entretenimento. Também estas podem variar entre fixas e variáveis. A prestação da casa é uma despesa necessária e fixa. As compras no supermercado são gastos variáveis e essenciais, mas podem também ser supérfluos. Quanto mais elevadas forem as despesas fixas, mais difícil será suportar uma quebra inesperada dos rendimentos.
Verificar situação financeira
A conta é simples: subtraem-se as despesas aos rendimentos e é esse valor que vai determinar a situação financeira da família. Se o saldo for negativo, significa que está a gastar mais do que recebe, o que significa que terá de ajustar as despesas variáveis, ou seja, o consumo. Este é um exercício que pode tentar fazer mesmo que o saldo final seja positivo. E quando o objetivo é cortar nos gastos, comece por estabelecer prioridades. No campo das despesas flexíveis, reveja os gastos com alimentação, nomeadamente a quantidade de vezes que os membros da família comem fora, mas também a real necessidade da compra de alguns bens no supermercado. Outro passo importante na avaliação da situação financeira é perceber se existe algum membro do agregado familiar que tenha mais peso do que os outros no campo das despesas. Se sim, identifique as razões e tente corrigi-las.
Calcular a taxa de esforço
É a percentagem do rendimento destinada a pagar prestações de créditos. Para lá chegar, divide-se a despesa total com as prestações pelo rendimento mensal da família e multiplica-se esse resultado por cem. Se optou por créditos com taxa de juro variável, tenha atenção às Euribor. Se estas aumentarem, a taxa de esforço da família também será maior. E caso a taxa de esforço seja muito elevada, pode ser vantajoso optar por pagar uma parte ou a totalidade dos empréstimos antecipadamente, se existirem poupanças disponíveis na família.
Estabelecer objetivos
Um orçamento familiar não serve apenas para gerir as contas do dia-a-dia. É importante definir metas de poupança para o futuro. E aqui, o futuro tanto pode ser o mês que vem como a próxima década. Comece por criar níveis de objetivos. A curto e médio prazo, a meta pode ser a compra de um carro, uma viagem ou a entrada para uma casa. A longo prazo, os objetivos mais comuns são a educação dos filhos ou a reforma. Neste caso, quanto mais cedo definir o montante que quer amealhar, mais fácil será alcançá-lo, já que o valor que terá de pôr de lado será menor. Explore com atenção os produtos de poupança que existem no mercado, para ter a certeza de que está a subscrever algo que se adequa à rentabilidade e aos prazos que pretende. O simulador do portal Todos Contam permite saber quanto dinheiro deve poupar por mês, e durante quantos meses, para atingir a meta estabelecida.
Conselhos
Feitas todas as contas, é tempo de deitar mãos à obra. Tal como o OE envolve todos os ministérios, o orçamento familiar deve contar com a participação de todos os membros do agregado, incluindo as crianças. Seja no Excel ou num bloco de folhas A4, faça um planeamento não só mensal mas também anual dos rendimentos e das despesas. Se os rendimentos mensais forem variáveis, tenha em consideração a média do ano anterior, e não faça estimativas por cima. A contabilização das despesas deve ser rigorosa, e não feita por alto. Guarde recibos, faturas, extratos de conta e outros documentos que contribuam para que as contas saiam certas. Tome nota das datas de pagamento das faturas para evitar penalizações. Tente “desviar” 10% do rendimento mensal para um “fundo de emergência”. E recorra, quando necessário, a simuladores de orçamento, para que no fim de contas consiga sempre um défice zero.
Fonte: dinheirovivo.pt